No passado, quando o presidente de uma grande companhia brasileira conversava com um investidor estrangeiro o assunto girava essencialmente em torno da saúde financeira da empresa e resultados das vendas. Mas hoje os critérios de responsabilidade ambiental, social e de governança corporativa ganharam mais peso. É o que defende o conteúdo da matéria de hoje (22) do Valor Econômico.
Isso fez o tom das conversas com investidores mudar. Perguntas sobre o que o executivo tem como perspectiva de futuro pessoal ou o que seus filhos pensam sobre diversidade e inclusão social tornaram-se comuns, diz o presidente da Gerdau, Gustavo Werneck.
“Eles querem saber como a sua cabeça funciona”, afirmou Werneck durante o debate da live “Sustentabilidade – A Estratégia das empresas no cenário pós-pandemia”, organizada pelo Valor, com o apoio da Gerdau. Não é apenas a conversa com o investidor que mudou. Para os especialistas, as entrevistas de emprego também não serão mais as mesmas.
Antes de aceitar o convite para trabalhar numa empresa o profissional vai querer ter certeza sobre sua transparência em relação às ações sociais “Hoje, já é o candidato que entrevista a empresa para saber se ela está alinhada com o seu propósito”, disse Werneck.
“A geração dos millennials não é movida apenas pelo impacto financeiro em suas carreiras”, destacou o diretor-executivo do Sistema B Internacional, Marcel Fukayama. Durante a live, Fukayama afirmou, ainda, que esses novos critérios tendem a alterar os conceitos no mercado de capitais. “Estamos saindo de um capitalismo de curto prazo”, disse.
O consumidor também vai mudar o olhar em relação às empresas e dará prioridade às mais envolvidas com causas sociais e ambientais. Por outro lado, a confiança do consumidor não é tão fácil de ser conquistada, segundo o diretor de sustentabilidade da Fundação Dom Cabral, Heiko Spitzeck.
Para ele, é preciso não confundir os critérios de responsabilidade ambiental, social e de governança corporativa (ASG) com filantropia.
“Não basta contratar um caminhão para levar alimentos para as comunidades carentes”, disse Spitzeck durante o debate virtual, conduzido por Maria Luíza Filgueiras, repórter especial do Valor. Segundo ele, a empresa que já tem a solidariedade na sua cultura não apenas contrata o caminhão que carregará as doações como já conhece as lideranças da comu
“Não basta contratar um caminhão para levar alimentos para as comunidades carentes”, disse Spitzeck durante o debate virtual, conduzido por Maria Luíza Filgueiras, repórter especial do Valor.Segundo ele, a empresa que já tem a solidariedade na sua cultura não apenas contrata o caminhão que carregará as doações como já conhece as lideranças da comunidade carente que sabem como organizar a distribuição. E isso faz diferença num momento de crise.
A conquista, tanto do consumidor, agora mais consciente e mais informado, quanto dos empregados de uma empresa e de seus investidores, sob a ótica das ações socioambientais, “não é algo que se cria da noite para o dia, como diz Fukayama. “Trata-se de uma transformação cultural.”
Quem já estava nessa fase de transformação saiu na frente na pandemia. Empresas que já tinham as questões sociais e ambientais em sua cultura aceleraram o processo, segundo Werneck. Para ele, esse movimento tende a ser benéfico para a sociedade porque ficará cada vez mais evidente que a busca de um mundo melhor não é uma batalha voltada para o futuro.
“Isso precisa ser usufruído pelas nossas próprias gerações.” O debate serviu, também, para mostrar o aumento do interesse das empresas em obter a certificação B-Corp, que utiliza o desenvolvimento social e ambiental para definir o sucesso de um modelo de negócio.
A pandemia tende a acelerar a criação de indicadores em todo o mundo para medir o impacto dos negócios de uma empresa na comunidade em que atua e nas relações com seus funcionários. Para Spitzeck, a empresa que não apresentar transparência nesses aspectos levará desvantagem até para obter financiamento internacional.
Há dúvidas, no entanto, em relação ao envolvimento do poder público nesse processo. Os debatedores concordaram que nem todos os governos se engajam na mesma proporção que as empresas, principalmente os de países com mais problemas de déficit fiscal. Em alguns, as empresas já fazem pressão.
Quando o governo dos Estados Unidos decidiu deixar o Acordo de Paris (que prevê limitar o nível do aquecimento global), no dia seguinte, 600 dirigentes assinaram um manifesto para esclarecer que suas empresas não seguiam a mesma decisão”, disse Fukayama.
Spitzeck, que é alemão, lembrou que em seu país, por exemplo, o governo começa a fazer valer a política do “mais verde e mais saúde” de maneira mais contundente. Isso tem provocado, destacou, o enfrentamento com setores que antes despontavam como engajados na causa ambiental, mas que falharam em comprovar seus objetivos.
FONTE: https://valor.globo.com/empresas/noticia/2020/06/22/adocao-de-criterios-socioambientais-atrai-investidores.ghtml