Microplásticos viajaram velozmente na atmosfera por milhões de quilômetros, atravessando os oceanos e continentes antes de se fixarem na cordilheira dos Pirinéus, na França.
Microplásticos encontrados no topo de montanhas dos Pirinéus franceses podem ter viajado entre continentes e oceanos antes de se sedimentarem. Esta viagem foi feita por cerca de 4.500 quilômetros, em uma região de rápido movimento na troposfera, camada mais baixa da atmosfera. Esta descoberta indica que as partículas podem alcançar regiões mais remotas em sua circulação pelo mundo.
Os microplásticos têm menos de 5 milímetros de diâmetro. Anteriormente, eles foram encontrados em uma região inferior da troposfera, chamada “camada limite”, onde a velocidade do vento é baixa devido ao atrito do ar com a superfície terrestre.
Neste momento, pela primeira vez foram obtidas evidências de que os microplásticos viajam na camada livre da troposfera onde o atrito entre o ar e a superfície terrestre não é sentido. A maior velocidade dos ventos nesta camada permite que os microplásticos tenham o potencial para circular rapidamente, com distâncias muito maiores do que as conhecidas até então.
“Quando os microplásticos atingem a camada livre, estão entrando na superestrada para o movimento da poluição. Existe a alta velocidade do vento e a escassa chuva neste local, de modo que a polição não se agrega à chuva, mas sim viaja rapidamente”, diz Steve Allen da Universidade de Strathclyde no Reino Unido, um membro da equipe de pesquisa.
“Não nos surpreendemos que as partículas estejam lá em cima, porém, nos entristece ter a ciência disso. Estas pequenas partículas são excelentes condutoras de poluição, atuam como pequenas bolas de velcro, coletando vírus e outros poluentes no externo da partícula conforme ela se move” diz a pesquisadora Deonie Allen, também da Universidade de Strathclyde.
15 amostras de microplásticos foram coletadas pelos pesquisadores no período de vários meses através do Observatório Pic du Midi nos Pirinéus (sudoeste da França), que fica a quase 3000 metros acima do nível do mar e dá acesso à troposfera livre.
A equipe usou modelos computacionais para mapear as prováveis rotas percorridas pelos microplásticos na semana anterior à sua captura. Os modelos armazenaram dados sobre o movimento do fluxo de ar ao redor do globo, e levaram em conta os tamanhos e densidades dos microplásticos para descobrir que as partículas percorriam em média cerca de 4500 quilômetros na troposfera livre. As fontes potenciais incluíam os EUA, Canadá, Norte da África, Reino Unido, e o Mar Mediterrâneo e Oceano Atlântico.
“Algumas das amostras que recebemos mostraram uma procedência marinha saindo do oceano e conseguindo subir na troposfera livre”, diz Steve Allen. “Isso basicamente completa o ciclo do que pensamos que o plástico está fazendo – não para em lugar algum, nunca há um afundamento, mas uma estação de passagem para outro lugar”.
A maioria das partículas tinha entre 5 e 20 micrómetros de diâmetro. Estas são partículas que podem ser inaladas e potencialmente causar problemas respiratórios.
“Algumas das amostras que recebemos mostraram uma procedência marinha saindo do oceano e conseguindo subir na troposfera livre”, diz Steve Allen. “Isso basicamente completa o ciclo do que pensamos que o plástico está fazendo – não para em lugar algum, nunca há um afundamento, mas uma estação de passagem para outro lugar”.
A maioria das partículas tinha entre 5 e 20 micrómetros de diâmetro. Estas são partículas que podem ser inaladas e potencialmente causar problemas respiratórios.
“Este é o tamanho de partícula que você respira que causa doenças respiratórias – o material que faz você tossir e dá asma”, diz Deonie Allen.
Usando um laser, a equipe determinou que o tipo mais abundante de plástico era o polietileno, que é comumente usado em embalagens plásticas.
Tal pesquisa traz a reflexão de que novas formas de reciclagem plástica, novos destinos ao plástico, devem ser criados e seguidos para a sustentabilidade do planeta e da saúde global.
Graças à tecnologia, novos esforços estão sendo feitos para reutilizar plásticos, como o polietileno, indicando mudanças positivas no meio ambiente. Também a normatização e legislação mais rígidas permitem que este problema de poluição seja amenizado gradualmente.
Referência: Nature Communications, DOI: 10.1038/s41467-021-27454-7
Fonte: New Scientist | Carissa Wong